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Nasceu em 1957 nos Açores. Reside em Montréal desde 1969. Actualmente as suas actividades profissionais são repartidas entre Portugal e o Québec.
Miguel Rebelo, a partir de «Os Pratos da Ásia», acrescenta uma dimensão conceptual à superfície pintada. À partida, foi a ideia de pintar objectos definidos, assumidos numa pesquisa gastronómica que poderão agora, ser examinados noutro prisma. O que poderia parecer uma análise incaracterística da natureza da arte, deverá, pelo contrário, ser encarada como o início de uma perpetração baseada numa exploração fundamental dos fluxos da experiência humana, assente numa resposta às suas influências culturais inspiradoras.
É um espírito traduzível pelo conceito de passagem, metáfora de uma temporalidade reguladora da nossa condição física e espiritual. É a passagem, enquanto elemento formal vinculativo da pulsão orgânica que é, espontaneamente, perceptível na pintura de Miguel Rebelo. A sua invulgar capacidade de assimilação transporta-nos, neste caso, para uma dimensão, onde o universo da gastronomia conflui com o da pintura. Nesta abordagem, a visão é frontal, Miguel Rebelo preenche um espaço, que não lhe é familiar, apresentando-o sob a forma de uma reconfiguração exultante do universo emergente dessa exploração. Foi esta riqueza que Miguel Rebelo soube explorar e que transparece nesta apresentação, que celebra o enlace de culturas e experiências.
Para lá do enlevo desta mostra, onde a pintura de Miguel Rebelo celebra a cultura asiática, é a estupefacção que brota do simples acto de olhar estas tonalidades e formas concebidas por um pintor atento à redescoberta do mundo. É a partir desta inquirição incessante de novas propostas estéticas que se desenvolve a pesquisa deste pintor peculiar, aqui presentificada nos «Os Pratos da Ásia».
Para despojar a tela dos seus limites físicos, Miguel Rebelo recorre à raspagem, depurando a superfície da tela; cria-se, por conseguinte, uma tensão entre o espaço e as formas dispostas na tela nua. É uma avaliação que requer uma grande capacidade de concentração, completamente absorvida pelo gesto do pintor perante a tela branca. É nesse gesto que nada representa, que se manifesta, prioritariamente, a vontade do pintor em impor a sua obra.
Miguel Rebelo na senda da exploração do espaço pictórico, onde se conserva uma sensação aguda do material como presença original. Esta existência material impõe-se, numa primeira fase, à superfície da tela, onde Miguel Rebelo acumula camadas de tinta e, em seguida, surpreende-nos ao inverter o sentido da investida inicial com incisões na tela. Invoca-se, assim, uma profundidade que contradiz essa extensão interminável que se desdobra no gesto do pintor e que o leva para além da superfície da tela. É esta celebração da cor – fulgurante desintegração – onde assenta a razão de ser desta pintura, à qual subjaz a inquietação deste pintor açoriano. Advinha-se para lá do fascínio pela Ásia, que emerge do simples facto de olhar, o reencontro de dois mundos: o das cores e o dos paladares.
Stela Lourenço, Galeria 111.
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